segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Pegou na comoda antiga o velho cachecol branco, encardido pelo tempo, acarinhado por leve poeira. Lembrou da vó sorridente que com calma paciencia ia mostrando os pontos, os laços que sempre perdia no seu tricotar. " Tenha tranquilidade ao fazer seus laços, esteja atenta, não perca seu fio". Carolina lembrava da voz serena da vó e se perdia nos mais elevados pensamentos. "Não perca o fio...". Apertou levemente seu cachecol mal terminado e observou demoradamente os fios em desalinho. Era apressada,desatenta... e seus bordados embora bonitos,se perdiam em nós bem intencionados. Sempre fora assim: afoita em dar nós desesperadamente com medo de perder sua linha e se perder. Sabia debilmente que tinha que ser firme.Mas suas mãos viviam trêmulas, e sua boca com sedes que nunca entendia. ... Do bordado aos olhos marejados... porque tanta água Deus? Tinha medo dos pontos que fez na sua vida... sempre em desalinho, sempre afoita a tentar reparar nós dificílimos de entender. Teria volta? tentaria sorver a esperança do vozinha póstuma de que chegaria "lá"? Sua vida continuava embaraçada... e quando acertava esta ou aquela carreira, logo percebia que havia um ponto desacertado,algo sinalizando que no ímpeto pela laçada perfeita,algo se perdera... ou não.(Quem saberia?). Seguia com medo dos bordados subjetivos que sempre achava tão feios e desbotados... levava guardado na gaveta opaca as linhas saudosas daquela vó-estrela. Mas não se via ali... metade dos muitos pontos não fora ela que dera. Carolina seguia seus dias tentando entender seus talentos ocultos... os teria? Não tinha talento com pessoas, achava ela.E murmurava baixinho na calçadas enquanto desviava o olhar pra todos os sorriso que cruzavam sua vida. Tinha medo: - só sei fazer nós... Lágrimas gotejavam no cachecol roto.Um vermelho borralho, triste mas firme. Carolina persistia... em fazer nós, em acreditar neles e pensar que podia ter herdado o talento da vó, de recomeçar... (...)