Cora observa o inverno que chega...
O mar azul vivo, iluminado agora embruteceu em uma escuridão que mesmo chegando anualmente, ainda emudece.
O coração segue batendo no seu ritmo surdo...
Há muitos silêncios dentro dela nesses dias e muitos medos que prefere não dar nomes para que eles não tomem conta de tudo e coloquem em risco o que a mantém de pé nesses dias de tempestade .
O mar é traiçoeiro em suas correntezas e decisões .
Cora, a filha de pescadores que sempre conheceu seus mistérios sempre detestou suas esperas .
Essa débil dependência de alimento, de certeza e de retornos que ancorados em preces, nem sempre aconteciam .
Difícil quebrar padrões ancestrais de abandonos inevitáveis .
As lágrimas grossas se misturam ao temporal que cai violentamente lá fora.
O vento corta tudo :
As verdades mal ditas ,
As mentiras bem ditas
E capítulos inteiros de sua história orquestrada.
Cora segue teimando...
Fecha as janelas, tranca os orgulhos no peito
E abraça sua teimosia , porque simplesmente não conhece outro jeito de continuar ...