quinta-feira, 8 de julho de 2010

...

Quando criança em feirinhas e parques, as pessoas vendiam balões de gás.Fascinada pelos brilho luminoso e balanço de brincar no céu, pedia com cara de charme pra minha mãe por um daqueles.Era a festa andar com aquele fio prateado enrrolado na ponta do dedo... caminhando comigo,acompanhando meus sobresaltos e sorrisos.Mas,como toda criança, o descuido vinha.Mesmo com todas as 10 voltas no dedo quase roxo.O balão escapava suave dos meus domínios e sumia no céu, virando um pontinho de saudade,sem cor,sem forma,sem nada.O coração marejava...os olhos corriam as chuvas de dentro e o sorriso sumia, como o balão que partia sem despedidas.Os adultos consolavam: compramos outro,isso acontece,você ganha um balão novo logo,não se preocupe.Vinham outras cores,outros balões... mas a dor por aquele balão que voava pra longe e mim,não sumia no céu, nem do coração.Depois que virei gente grande, descobri, com lucidez embaraçosa, que alguns amores se afastam do nosso alcance igualzinho ao que acontecia com aqueles balões que vi se distanciarem cada vez mais, cada vez mais, cada vez mais. No início, a gente caminha todo prosa, um pé de vida florido, pontinha do sonho amarrada ao pedaço de linha que se chama esperança. Planos de jardim com girassóis, filho contente, cachorro, horta, rede na varanda, e aquela mão segurando a nossa, estrada afora. De repente, começa a ventar o vento que tira os sonhos do lugar, que faz o fio da linha se desprender do dedo, que recolhe a ponte e deixa o abismo. Um vento soprado pela desatenção, o descuido letal para os balões e os amores.Há um momento sem sol em que a gente percebe que o amor anoiteceu. O coração enxovalhado, ferido, está exaurido pela aflição de tanto esticar-se para tentar alcançar o fio da linha que se soltou e amarrá-lo de novo na pontinha dos sonhos. No fundo, ele sabe que não o alcançará: voa longe demais da possibilidade de alcance. Se ainda insiste, buscando impulso para pulos cansados, é porque aquele amor, exatamente aquele, ainda é tudo o que ele mais deseja. Porque não sabe onde colocará as mãos, o encanto, o olhar, depois daquele instante. Porque não lhe importa que outro amor venha ao seu encontro. É aquele, aquele lá, que ainda o descompassa.Vida marejada, nó apertado na garganta das coisas, chega finalmente o momento em que desejamos apenas o sossego que costuma vir com a aceitação. Coragem, às vezes, é desapego. É parar de se esticar, em vão, para trazer a linha de volta. É permitir que voe sem que nos leve junto. É aceitar que a esperança há muito se desprendeu do sonho. É aceitar doer inteiro até florir de novo. É abençoar o amor, aquele lá, que a gente não alcança mais...(texto meu e da Ana Giácomo) parte partilhada da mesma experiencia de quase-dor,quase- alegria e quase sonho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário