sexta-feira, 8 de maio de 2015

Espantalho (Para Rubem Alves o maestro dos passarinhos)

Eu ali parado diante do campo dourado pelos raios que se despediam ao fim da tarde... Sentindo o vento, sentindo os silenciosos vazios das manhãs... nunca soube como começou minha vida. Só sei do propósito de estar aqui. Quiseram que eu espantasse passarinhos... mas no final das contas, sempre encontraram abrigo nos meus ombros. Não seria bom isso? Ter a leveza breve sobre si e a companhia de passarinhos? (...) Tenho linhas no rosto. De várias cores. Um vermelho tentando ser sorriso, olhos pretos vivos e um nariz alaranjado adunco como o do vô Tomás...; Meus braços estão sempre abertos, esperando um abraço que não vem. Olho para o infinito; o que vejo são os dias morrendo lentamente, o sol se despedindo sem acenos e os passarinhos voando para melhores abrigos. Estou parado no mesmo lugar...há anos. E sempre querendo voar com os passarinhos. Da fazenda, vem o aroma do café fresco, mas não posso sentir. O sorriso do Matheus - o menino com estrelas nos olhos- e o cantarolar suave da cozinheira Zena... E de todos os dias, as luas e estrelas que me espiaram posso dizer que no fim, nada resta. Um dia, vão de desfazer...a palha de um lado, o retrós de outro. Restará apenas o coração que ninguém viu e o amor dos passarinhos... e aquela certeza clara que ainda sem poder, vou sorrir no fim...

Nenhum comentário:

Postar um comentário